sábado, 24 de janeiro de 2009

EUA fazem apelo pela reciclagem dos celulares



Claudia H. Deutsch


Da maneira que a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos considera a questão, um celular descartado é como um voto: sozinho, não pode fazer muito de bom, ou ruim, mas o efeito cumulativo pode ser imenso.
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Assim, na terça-feira, em parceria com um grupo de varejistas, produtores e operadoras de telefonia móvel, a EPA introduzirá uma campanha de educação pública cujo objetivo será convencer os consumidores a reciclar os celulares.
Pelos cálculos da agência, até 150 milhões de celulares são tirados de serviço a cada ano. Os aparelhos contêm metais, plástico, vidro e produtos químicos, todos os quais requerem energia para minerar e produzir, e muitos dos quais podem ser perigosos caso terminem em aterros sanitários e seus componentes se infiltrem no solo. Além disso, muitos dos celulares descartados ainda funcionam, e podem ser doados a organizações de caridades ou distribuídos a pessoas pobres.
"Existem benefícios ambientais e de energia significativos em recolocar esses aparelhos na cadeia de produção", disse Matt Hale, diretor da divisão de resíduos sólidos da EPA.
A campanha de US$ 175 mil - "recicle seu celular. É fácil" - vai depender pesadamente de anúncios nas seções de interesses público, especialmente em revistas de tecnologia e estilo de vida lidas por pessoas dos 18 aos 34 anos, que trocam de celular com mais freqüência. Os anúncios enfatizarão razões sociais e ecológicas para reciclar. A agência também planeja produzir um podcast no qual especialistas em reciclagem explicarão de maneira mais aprofundada a metodologia empregada.
A EPA anunciou que realizaria diversas operações de coleta de celulares em 2008, e que postaria em seus sites, entre os quais o http://www.epa.gov, uma lista aberta a buscas de centros que recebem celulares para reciclagem. A organização também distribuirá cartazes com a assinatura da campanha às instituições parcerias, para identificar os pontos de coleta.
"Nosso papel essencial é o de difundir a mensagem de que reciclar telefones é fácil e conveniente", disse Hale, que estima que apenas 20% dos celulares indesejados sejam reciclados ou reutilizados a cada ano.
Esse não é o primeiro esforço da EPA para resolver os problemas dos resíduos gerados pelos produtos eletrônicos. Em 2003, a agência criou a campanha "conecte-se à reciclagem eletrônica", que encoraja a reutilização e reciclagem de computadores, televisores e outros itens eletrônicos de grande porte.
Até recentemente, os celulares - cujo conteúdo em termos de metais e produtos químicos prejudiciais é bastante inferior ao de itens de maior porte - pareciam menos problemáticos. Mas agora o imenso volume de aparelhos em uso e vendidos a cada ano vem criando problemas. De acordo com a operadora de telefonia móvel Sprint Nextel, só nos Estados Unidos existem mais de 240 milhões de usuários de celulares.
Onze empresas - AT&T, Best Buy, LG Electronics, Motorola, Nokia, Office Depot, Samsung, Sony Ericsson, Sprint, Staples e T-Mobile - são parceiras da EPA na campanha. Todas prometeram recolher celulares e promover eventos quanto à reciclagem.
De fato, muitas delas já o fazem. Mark Buckley, vice-presidente de assuntos ambientais do grupo Staples, disse que a cadeira de varejo reciclou mais de 31,6 mil celulares e organizadores pessoais em 2006. O número certamente subirá, ele disse, à medida que os celulares continuam a suplantar a telefonia fixa como forma preferencial de comunicação e que a EPA continua a dar destaque às questões de reciclagem.
"Cada parceiro ainda terá de conduzir um programa próprio", disse Buckley, "mas a EPA está oferecendo uma mensagem padronizada sobre a questão aos consumidores".
A Sprint tem dois programas de reciclagem de celulares. O Sprint Buyback Program permite que os usuários entreguem seus aparelhos descartados em troca de um crédito de US$ 50 em suas contas. O Sprint Project Connect, um programa filantrópico, aceita celulares de clientes de qualquer operadora.
Os celulares que não puderem ser reutilizados têm suas partes removidas, e as carcaças são vendidas a uma empresa de reciclagem que extrai metais. A Sprint subtrai o custo de seu trabalho e doa o dinheiro restante a um programa que promove o uso seguro da Internet pelas crianças.
De acordo com Darren Beck, o gerente da empresa que dirige o Project Connect, a Sprint reciclou mais de sete milhões de celulares desde 2001, e doou mais de US$ 4,5 milhões assim obtidos a projetos de caridade. Como Buckley, a expectativa dele é de que a nova campanha da EPA ajude a elevar esses resultados.
"A nova campanha acrescenta elementos de conscientização e de conveniência para os usuários", ele afirmou. "Caso exista uma loja da Verizon em seu quarteirão, os nossos clientes saberão podem entregar lá seus aparelhos usados para reciclagem".
Os grupos ambientalistas aplaudiram a iniciativa, ainda que a considerem limitada. Para surpresa de ninguém, eles desejam que a EPA regulamente a questão da reciclagem, e não apenas promova esforços voluntários nesse sentido.
"Os celulares são apenas a ponta do iceberg dos resíduos eletrônicos, agora", disse Beth Trask, gerente de parcerias empresariais no grupo ambiental Environmental Defense. "Ação voluntária e educação podem ajudar a prevenir o problema, mas também precisamos de regulamentação. Precisamos de tudo, de fato".

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